Cinco anos. Faz hoje cinco anos que morreste, que me abandonaste. Às vezes parece que foi há minutos, segundos que tudo aconteceu. Que ainda sinto o teu odor forte e muito intenso, que espalhavas como ondas ao passeares pela rua. Parece que foi há minutos que estive aqui, neste cemitério, as lágrimas parecem as mesmas. Pela primeira vez na minha vida, fizeste-me chorar de saudade. Outras vezes, como hoje, em que o sol se reflecte muito ofuscado pela tristeza, tenho a sensação de que estás cada vez mais longe. Cada vez me esqueço mais de te sentir, de te ouvir, de te abraçar. Como se a distancia tivesse mesmo a capacidade de atenuar tudo, até a dor.
Em dias de sol como este, venho visitar a tua nova casa quando me sinto mais triste e sozinha e não encontro respostas no mundo dos vivos, só nas lápides do cemitério calmo e em silencio onde o teu nome esculpido me faz bater o coração, outra e outra vez, mais e mais depressa. Fujo do mundo como uma fraca, minto a todos e digo estar com este, com aquele, para vir ao pé de ti.
Lembraste? Até já te apresentei o meu melhor amigo. Foi o único capaz de vir comigo aqui. Acho que ias gostar dele, afinal ele faz um bocadinho de ti… Protege-me e fala comigo, ajuda-me sempre que pode e dá-me abraços quando me faltam os teus.
Fazes cá falta tu, mesmo assim, que me enchias a vida de luz e os sorrisos de amor, que me deste o melhor do mundo, aquele tudo incondicional.
Entro no cemitério e o silêncio continua a dar-me paz. No ar paira o cheiro doce a saudade e tristeza, a lágrimas e beijos, a passado. Oiço a minha respiração com atenção de criança, acho que até nisso somos parecidos.
Vou até onde descansas eternamente, ajeito-te as flores como sempre e sento-me ali, num bocadinho de cimento que resta ao teu lado esquerdo, o lado do coração.
Com tudo isso, ponho-me a olhar para o teu nome – o mais bonito de todos – e fico atónita a pensar que não tive tempo de te dizer o quanto te amava e ainda amo, que queria que estivesses aqui, vivo, para poder voltar a passear contigo, junto ao mar, ou ao rio, ou até no quintal, de mão dada.
Meu querido avô, meu querido pai, queria pedir-te que saísses da tua estrela, que voltasses ao mundo dos vivos para me ajudares, agora e sempre, agora que tanto preciso, que nunca te afastes e que eu não me esqueça de te sentir, que nunca te esqueças que tens a “melhor neta do mundo” que te ama e amará sempre, que reza e chora por ti, que tem muitas saudades tuas, que todos temos muitas saudades tuas, e que, se não fosses tu, eu não saberia abraçar-me à vida e agarrar-me a ela para não a deixar voar, eu não saberia o que era amar para sempre uma pessoa, mesmo que esse amor só nos sirva para encher os dias de lágrimas e as noites de insónias, de preocupação, de tristeza.
Obrigada querido avô, muito obrigada por tudo. Até já, volta depressa *
2 comentários:
Inês,
Este teu texto emocionou-me muito... A escrita é de facto a melhor forma de aliviarmos a nossa alma e sublimarmos o nosso amor. Continua a escrever com o coração...
A prof. de Língua Portuguesa.
este é o meu preferido
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