Amava poder matar-te cá dentro, no mais ínfimo de mim, fazer-te desaparecer, evaporar. Seria um amor maior até que o meu amor por ti, pelo prazer de o poder destruir, arruinar, esquecer, devorar (...), pelo prazer de te expulsar da minha vida, como sempre me tentaste fazer e ainda hoje te é impossível. Ver-te dissipar tal bafo de fumo do meu último cigarro, do teu, do nosso.
Arrancar-te dos poros do meu corpo até ao último esboço, até à última viragem da Terra.
Esquecer-te no toque, no aroma açucarado, no sorriso tímido e desajeitado, no cabelo dourado, nos olhos avelã, esquecer-te de mim, de ti, de nós.
Abandonar-te devagar, calmamente, para não tropeçar nem cair, para não me aleijar, para não me magoar mais. Expulsar-te de mim com a mesma agilidade que tu soubeste fazer aos que mais te amaram. Para poder desfrutar...
Quando sais de mansinho, ao som morto da madrugada húmida e gélida de uma época de inverno, ainda te oiço, pé ante pé, vestir as roupas antes rasgadas de paixão, abandonar a casa que te acolhe o prazer, te dá vida e amor.
Sabes, já me passou pela cabeça proibir-te, agarrar-te e gritar-te aos ouvidos, bem alto, que não é isso que queres. Que desejas ficar ali, aninhado no meu corpo a contornar as curvas onde em tantas noites te perdeste. Dizer-te que não suporto mais nenhuma partida nem aceito regresso algum da tua parte, com o orgulho ferido e o coração destroçado.
Mas seria inútil, estúpido e até infantil. Tu não vais porque queres, vais porque não consegues ficar...
1 comentário:
Oh Mia, como escreves, omg x)
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