domingo, 29 de novembro de 2009

(escrito a) vinte e três de maio de dois mil e nove

É cada vez mais estranho juntar a família. Fazer os característicos almoços, as tardes na casa do Monte, os passeios pela Praia e não te ver em cada imagem que vou guardando. Observar as fotografias espalhadas pela casa, sobrepostas por outras, sendo essa a única forma que eu achei para te deixar mais longe. Já não suporto esta ausência constante, perpétua.
É estranho olhar para sorrisos parecidos com o teu, tão abertos e sinceros. Entranhar-me a essência que alastravas pelas ruelas. Sentir o Sol a incendiar-me o rosto, nos dias perfeitos em que iríamos observar o azul genuíno do céu. Avistar as breves cartas que ainda abrigo na tal caixinha, com a tua letra muito redonda e imensa, e, no entanto, a caneta insistir em permanecer breve e imóvel sobre uma secretária empoeirada e gasta. É misterioso ver o chão e não achar lá o rasto dos teus passos, firmes e decididos, as tuas coisas espalhadas pela casa da Praia, pelas minhas gavetas, pelo lado esquerdo do coração – que soubeste conquistar melhor que ninguém.
Pedaços abandonados por entre gavetas e recantos, roupas, algumas com o teu cheiro intenso já desgastado, pelas desfeitas do tempo. Chaves sem toque, mesas com um lugar em falta.
As recordações, essas, permanecerão entre o que fomos e o que poderíamos ter sido, e nem o vento forte ou uma grande tempestade de Inverno as levarão.
Não estarás mais aqui para me abraçar e apertar a mão, para me aconchegares e puxares o lençol a meio da noite. Mas em todos os instantes eu te sentirei em mim, com a tua essência entranhada nos poros da minha pele.
O tempo continua a morrer, cada vez mais devagar.
É triste ter como necessidade fazer da tua falta um hábito eterno. Mas gostava que soubesses que me recordo de ti, todos e todos os dias da minha vida. Continuarás sempre em tudo o que faço, de alma e coração.

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