domingo, 4 de abril de 2010


Entrega-me ao desespero mais afunilante que presenciei até hoje assistir à tua pequenez mimada. É irritante a indiferença macabra com que me chamas Maria Mulher todas as noites em que decido sair debaixo da tua asa apertada. Custa-te assim tanto admitir que eu não vou ser sempre a criança que te acompanhava nos jogos de futebol e gritava que nem uma louca ao teu lado? É assim tão assustador avistares-me no fundo da rua de mala ao ombro e lábios pintados? Não é com esse desdém insinuante que te devolvo a confiança que assassinaste, meu querido.
Perdem-se as contas nos 20 dedos das mãos trabalhadas das mulheres cá de casa as vezes que, silenciosa e macabramente, projectas todo esse discurso patético e ridículo para exercer a tua força de Pai de Família, como se de preocupação se tratasse essa tua autoridade medonha.
O ritual que a Tua Pequena tem todos os dias chama-se possuir ambições, desejos, ganância saudável e veloz de ser alguém na vida que não uma dependente do passado que alimentas de terror. Estar de saída para nunca mais voltar, recolher os cacos que insistes em aumentar todos os serões embriagados.
Perde a teima de que o mundo gira à tua volta. Acaba com os faz-de-conta infantis. A idade não são só número para preencher inquéritos, é a responsabilidade às costas de quem menos culpa tem dos teus actos loucos.
Tenho imensa pena que te tenhas tornado indiferente aos olhos de quem mais te amava, mas certos homens têm esse dom e tu não foges à regra que se torna sistemática. Porém, depois de tantos anos a assistir ao teu esmagar constante de Mulheres como pedras nos sapatos – e mesmo que me queiras Menina de Colo – não há muito sentimento que te possa transbordar na tua velha e gasta sola de sapato.
Mesquinhez e mediocridade alagam-te ao amanhecer. Está a anoitecer e a casa ficará vazia para te receber. Como todas as noites em que assim a mereceres – assim a irás receber. Espero que te dês bem com o eco assustador. A pequena Palhaça que todas as noites se produz para tapar as marcas da tua idiotice foi-se divertir ao lado de quem – com certeza – sabe dar o devido valor à sua existência.

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