terça-feira, 18 de maio de 2010


Mais assustador que a caverna onde me destruí, é o pavor aterrador de não ter receio do escuro que me consome. Não ter medo é pavoroso – como se só o medo conseguisse acarretar a morte do espírito malévolo que me penetrou. Perdi a conta aos anos em que aqui ando, entre um canto e outro – sem luz. Escuro. Negro. Sombrio. 
Ainda ontem lábios se cruzavam pelo meu caminhar morto e vagaroso, à deriva, pelas ruas lavadas e consumidas da chuva, do Inverno enorme que insiste em assombrar os dias das crianças esperadas. 
Nem sei há quanto tempo caí de luto. A minha memória fúnebre está abarrotada de acontecimentos recentes o suficiente para edificar um mar de ódio entre o preto que me veste e o branco aguado, horripilante, simplório das preces onde me escondo. 
Não há nada de trágico e mortífero na indiferença que me alaga as artérias. São só imaturidades e adolescências tardias ou adiantadas que insistem em consumir-me – tal e qual o colesterol dos velhos bêbedos das tabernas.  
Continuo de pé perante a catástrofe caseira. Deixem-me caminhar para o abismo. Se eu não gostar de cair, certamente me levantarei. Sozinha.

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