conversas de café I

 - Não desanime... Sabe lá se um dia o mundo não lhe cabe nas mãos. Já viu esses gaiatos que aí andam? Hoje sujam os joelhos na lama e amanhã podem ser grandes doutores. Sabe-se lá…
- Isso são lá acreditares da adolescência. Quando pensamos que podemos mexer o mundo com a ponta dos dedos. É tudo muito cor-de-rosa, menino. Mas as coisas não são bem assim. Uma pessoa habitua-se a gostar só daquilo que tem, que lá por azares da vida nunca há-de poder ter aquilo que realmente amou um dia. É a vida.
- Não se conforme, isso nunca fez bem a ninguém…
- Oh menino, é que você ainda é jovem e ainda pensa que pode tudo só por amar uma catraia. E eu cá já levei muita sova e as marcas hão-de um dia me levar para a cova. É que o menino ainda acredita que há-de ser feliz, e eu já o fui. Já fui muito feliz ao lado do meu homem, ah se fui. E ao lado dos meus filhos. Gaiatos da cidade, agora, ela formada e ele para lá caminha… mas depois uma pessoa habitua-se a viver com o pouco que tem. E isto também lhe serve a si: não queira tudo se não poder dar nada em troca. Há-de aprender que se dá sempre muito mais do que se de recebe quando toca lá à coisa do coração. E eu que dei tanto…