terça-feira, 27 de abril de 2010

Sou um cadáver extinto, entregue à tua desgraça. Não tenho os braços que te albergaram noites sem conta, nem a boca amarga e fria que te beijava o corpo suado e perdido, exausto do sexo ardente de anos sem fim. Não tenho cara; sou um monstro desfeito no teu sangue – espalhado pelos cacos da enorme casa que nos continua a hospedar, séculos depois da nossa morte trágica, depois da morte fria em que te acolhi.
Matei-te por egoísmo, porque corpo que passa pelas minhas mãos jamais carregará outros cheiros. Matei-te por desejo, sabendo de cor o nosso destino letal e arrebatador. Matei-te por amor.

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